Em um de seus livros, Richard Feynman, Nobel em física em 1965, relata
uma divertida anedota que usou num de seus cursos para exemplificar até que ponto as pessoas podem
se recusar a entender os conceitos mais básicos e fundamentais da Física.
Assim, dizia ele: "suponha que um educadíssimo e calmíssimo guarda de
trânsito tenha parado uma jovem e decidida motorista que o tenha ultrapassado
em alta velocidade. Dirigindo-se à simpática motorista, ele avisa: ' vou multá-la
por excesso de velocidade'. E, para sua total e completa infelicidade,
completa: 'A senhorita estava a 100 quilômetros por hora'.
A jovem, que não estava nem um pouco inclinada a pagar uma multa,
responde no ato: ' Impossível. Como posso ter estado a 100 quilômetros por
hora, se só estou dirigindo , no máximo, há sete minutos?
O guarda (não esqueça, era educadíssimo e calmíssimo), com toda a
paciência do mundo, afirma: ' Minha senhora, o que eu quis dizer é que se
continuasse andando como estava, em uma hora teria percorrido 100 km...' Mas a
jovem não desiste e responde: ' No momento em que o senhor fez sinal para que
eu parasse, eu tinha tirado o pé do acelerador e de fato meu carro estava
parando. Assim, se eu continuasse como estava, jamais percorreria os 100
quilômetros em uma hora, ou em qualquer intervalo de tempo! Além disso, no quarteirão seguinte há um muro
que corta esta rua, impedindo o trânsito. Como então eu poderia percorrer seus
100 quilômetros?'.
O guarda atinge aqui seu limite máximo de paciência e, tentando conter
seus impulsos mais primitivos, diz-lhe em tom alterado: ' Olhe, o que eu quis
dizer é que o velocímetro do seu carro devia marcar 100 quando eu lhe pedi para
parar!'.
Dá-se então a crise total. A menina olha inocentemente para o guarda e
afirma com muita calma: ' O velocímetro deste carro está quebrado e, de fato,
não pode marcar nada em absoluto, o que significa que não poderia marcar 100 ou
qualquer coisa'.
O guarda, agora pálido, fecha os dentes e, após um profundo suspiro, fala
em tom grave, mal conseguindo se conter:
' Certo! O velocímetro do seu carro está quebrado e se a senhora
continuasse avançando como estava, terminaria por se chocar contra o muro no
fim da rua. Resta o fato de que, no segundo em que eu a vi, a senhora percorreu
inegavelmente 28 metros... portanto , vou multá-la por apresentar a velocidade
de 28 metros por segundo nesse intervalo de tempo!...'
Muito provavelmente, você ache que isso já seria suficiente para fechar a
discussão, e talvez eu ache também, mas a jovem sentada à direção do veículo
não tinha a mesma opinião e, com um sorriso irônico, contra-atacou o guarda,
afirmando: 'Sim! Mas não há nenhuma lei que me proíba de andar 28 metros por
segundo. O que existe realmente é uma lei proibindo que eu ande a 100
quilômetros por hora!...
Finalmente, o equilíbrio emocional do guarda sofre ruptura total,
enquanto ele grita: ' Mas dá na mesma! Na MESMA! Na MESMA!!...
E a pobre garota, agora assustada e quase aos prantos, ainda murmura: '
Mas, seu guarda, se fosse a mesma coisa o senhor não estaria gritando comigo há
15 minutos, tentando justificar uma multa absurda...' ".
E você, como teria explicado essa situação à garota? Você acha mesmo
fácil explicar conceitos aparentemente banais da Física?
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